Rescisão Indireta: Como Funciona Esse Tipo de Demissão?

A rescisão indireta é um direito assegurado ao trabalhador quando a empresa não cumpre com as obrigações trabalhistas ou desrespeita as diretrizes estabelecidas no contrato de trabalho. Esse mecanismo oferece respaldo legal ao funcionário em situações em que a relação empregatícia se torna insustentável devido a faltas graves cometidas pelo empregador.

Neste artigo, vamos explicar detalhadamente o que é a rescisão indireta, em quais situações ela pode ser aplicada, quais são os direitos do trabalhador nesse processo e como proceder para solicitá-la.

O Que é a Rescisão Indireta do Contrato de Trabalho?

A rescisão indireta é uma forma de encerramento do contrato de trabalho provocada por faltas graves cometidas pelo empregador. Funciona como uma espécie de “justa causa ao contrário”, onde o empregado toma a iniciativa de rescindir o contrato devido a condutas inadequadas da empresa que tornam inviável a continuidade da relação trabalhista de forma saudável e digna.

Dessa forma, o trabalhador pode encerrar o vínculo empregatício sem perder os direitos trabalhistas que teria em uma demissão sem justa causa, garantindo assim proteção legal e financeira diante de situações de abuso ou descumprimento de obrigações por parte do empregador.

 

Di Paula Advocacia - Recisão indireta

Quando a Rescisão Indireta Pode Ser Aplicada?

A legislação trabalhista brasileira, especificamente a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), prevê diversas situações em que a rescisão indireta pode ser aplicada. Essas situações envolvem condutas inadequadas ou ilegais por parte do empregador que violam os direitos do trabalhador e as cláusulas contratuais estabelecidas.

A seguir, listamos 8 motivos que podem justificar a rescisão indireta:

  1. Constrangimento e Assédio

Quando o trabalhador é submetido a situações constrangedoras, humilhações, assédio moral ou sexual por parte de colegas, superiores ou empregadores, configura-se uma falta grave que permite a rescisão indireta. O ambiente de trabalho deve ser saudável e respeitoso, e qualquer violação nesse sentido é inadmissível perante a lei.

  1. Exigência de Serviços Alheios ao Contrato

Se o empregador exige que o empregado realize tarefas que não estão previstas em seu contrato de trabalho ou que são incompatíveis com sua função, caracteriza-se uma violação contratual. O trabalhador não pode ser obrigado a desempenhar atividades para as quais não foi contratado ou que excedem suas competências e atribuições.

  1. Não Recolhimento do FGTS

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é um direito trabalhista fundamental, e o seu não recolhimento mensal por parte da empresa constitui falta grave. O FGTS é uma segurança financeira para o trabalhador, especialmente em casos de demissão, e seu recolhimento adequado é obrigatório por lei.

  1. Atraso ou Não Pagamento de Salários

O atraso recorrente ou a ausência de pagamento dos salários nas datas estabelecidas é uma infração grave das obrigações do empregador. O salário é a principal fonte de sustento do trabalhador, e sua pontualidade é essencial para a manutenção da dignidade e do bem-estar do empregado e de sua família.

  1. Não Pagamento Antecipado das Férias

A legislação trabalhista determina que o pagamento das férias deve ser feito até dois dias antes do início do período de descanso. O não cumprimento dessa obrigação por parte do empregador permite que o trabalhador solicite a rescisão indireta, visto que implica no descumprimento de um direito básico do empregado.

  1. Tratamento Discriminatório

Qualquer forma de discriminação no ambiente de trabalho, seja por gênero, raça, religião, orientação sexual, idade ou condição física, é proibida por lei. Tratamentos diferenciados e injustos configuram falta grave e permitem ao trabalhador buscar a rescisão indireta do contrato.

  1. Exigências Excessivas ou Abusivas

Quando o empregador impõe cargas de trabalho excessivas, jornadas exaustivas ou metas inalcançáveis que comprometem a saúde física e mental do trabalhador, há caracterização de abuso de poder. Essas exigências desproporcionais violam os direitos do empregado e justificam a rescisão indireta.

  1. Rebaixamento de Função ou Salário

A redução injustificada de salário, benefícios ou a realocação do trabalhador para uma função inferior sem seu consentimento constituem violações contratuais graves. O empregador não pode alterar unilateralmente as condições de trabalho previamente acordadas sem a anuência do empregado.

Direitos do Trabalhador na Rescisão Indireta

Ao solicitar e ter reconhecida a rescisão indireta, o trabalhador tem direito a receber todas as verbas rescisórias equivalentes a uma demissão sem justa causa. Isso inclui:

  • Aviso Prévio: Indenização correspondente ao período de aviso prévio, que varia conforme o tempo de serviço.
  • Saldo de Salário: Pagamento dos dias trabalhados e ainda não remunerados até a data da rescisão.
  • Férias Vencidas e Proporcionais: Pagamento das férias não usufruídas e proporcionais, acrescidas de um terço do salário.
  • 13º Salário Proporcional: Pagamento do 13º salário proporcional ao período trabalhado no ano.
  • Saque do FGTS e Multa de 40%: Direito de sacar o saldo do FGTS acumulado, além de receber a multa de 40% sobre o total depositado.
  • Seguro-Desemprego: Direito de solicitar o benefício do seguro-desemprego, conforme as regras vigentes.

Esses direitos visam garantir a segurança financeira do trabalhador após o término do vínculo empregatício e compensar as injustiças sofridas durante o contrato de trabalho.

Como Solicitar a Rescisão Indireta?

Para solicitar a rescisão indireta, o trabalhador deve seguir alguns passos importantes:

1. Reunir Provas Concretas

É fundamental coletar evidências que comprovem as faltas graves cometidas pelo empregador. Essas provas podem incluir:

  • Documentos: Contratos, comunicados oficiais, recibos e quaisquer documentos que comprovem as violações.
  • Testemunhas: Depoimentos de colegas de trabalho ou outras pessoas que possam atestar as irregularidades.
  • Registros Eletrônicos: E-mails, mensagens, gravações de áudio ou vídeo que evidenciem as condutas inadequadas.
  • Laudos e Perícias: Em casos que envolvam saúde ou segurança, laudos médicos ou periciais podem ser necessários.

2. Procurar um Advogado Trabalhista

O auxílio de um advogado especializado em direito trabalhista é essencial para orientar o trabalhador durante todo o processo. O profissional irá:

  • Analisar o Caso: Avaliar a viabilidade da ação e a consistência das provas apresentadas.
  • Elaborar a Reclamação Trabalhista: Preparar e protocolar a ação judicial junto à Justiça do Trabalho.
  • Representar o Trabalhador: Defender os interesses do empregado em todas as instâncias necessárias, incluindo audiências e negociações.
  1. Ingressar com Ação na Justiça do Trabalho

Com o suporte do advogado e as provas reunidas, o trabalhador deve ingressar com uma reclamação trabalhista solicitando o reconhecimento da rescisão indireta. O processo judicial irá avaliar as circunstâncias apresentadas e decidir sobre o direito do empregado às verbas rescisórias.

  1. Decidir Sobre a Continuidade do Trabalho

Durante o trâmite processual, o trabalhador pode optar por:

  • Continuar Trabalhando: Manter suas atividades até que haja uma decisão judicial, garantindo assim sua remuneração regular.
  • Suspender as Atividades: Deixar de comparecer ao trabalho, justificando a ausência com base nas faltas graves do empregador. Essa decisão deve ser tomada com cautela e orientação jurídica, para evitar possíveis prejuízos.

Considerações Finais

A rescisão indireta é uma importante ferramenta de proteção aos direitos do trabalhador, garantindo que abusos e irregularidades cometidos por empregadores não fiquem impunes. É essencial que o empregado conheça seus direitos e saiba como proceder em situações de desrespeito e violação das obrigações trabalhistas.

Contar com orientação jurídica especializada e reunir provas consistentes são passos fundamentais para assegurar o sucesso na reivindicação dos direitos e garantir a justiça no ambiente de trabalho.

Se você está enfrentando situações similares ou tem dúvidas sobre seus direitos trabalhistas, não hesite em procurar aconselhamento legal para avaliar seu caso e tomar as medidas adequadas.

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